sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Novo tratamento de incontinência urinária infantil é desenvolvido no Brasil

Neuroestimulação sacral desenvolvida na Bahia tem índice de cura de 72% em longo prazo. Estudo será divulgado em dezembro


Urologistas pediátricos se reuniram para debater as novidades no setor durante o 32º Congresso Brasileiro de Urologia, em Goiânia. Os temas de destaque foram as novidades em tratamento para enurese, popularmente conhecida como xixi infantil na cama ou escapamento durante o dia, e quando realizar a cirurgia para crianças com criptorquidia (testículo que não desce para a bolsa escrotal). De acordo com as estimativas da Sociedade Brasileira de Urologia, cerca de 15% das crianças até 5 anos ainda fazem xixi na cama.
O coordenador do Centro de Estudos Miccionais na Infância (CEDIMI) da Escola Bahiana de Medicina, Ubirajara Barroso, apresentou dados de um estudo inédito sobre um novo tratamento para a enurese noturna (xixi na cama infantil) e incontinência urinária diurna. Os dados se referem à técnica europeia da neuroestimulação sacral indicada para crianças que têm escapamento de urina durante o dia. De acordo com os dados do primeiro estudo, divulgado em 2006, 63% das crianças tratadas obtiveram a cura em curto prazo. O estudo que será divulgado no Journal of Urology, em dezembro, avaliou as crianças em longo prazo e chegou à conclusão de 72% delas atingiram a cura.
" Trabalhamos com 49 crianças, a maioria delas por mais de dois anos e parte por cerca de 6 meses. Enquanto, 63% delas obtiveram a cura em curto prazo, 21% tiveram uma melhora importante no mesmo período e apenas 6% tiveram falha no tratamento, então nosso índice de sucesso é de 94% dos casos" , explicou Barroso. O estudo vem acompanhando crianças desde 2001. " A média de acompanhamento das crianças no estudo é de 3 anos" , disse o médico.
A técnica fisioterápica da neuroestimulação sacral consiste em colar um eletrodo na região sacral (nas costas entre a região lombar e o início das nádegas) para estimular o controle do esfíncter. " O belga Piet Hoebeke foi quem desenvolveu esse tratamento. No entanto, ele era feito diariamente com uma frequência de 2Hz, aperfeiçoamos a técnica, aumentando para 10Hz e diminuindo o número de sessões semanais para três" , afirma Barroso, que contou com uma equipe multidisciplinar composta por especialistas em: fisioterapia, psicologia, enfermagem e nutrição.
Hoebeke, chefe do Departamento de Uropediatria da Ghent University Hospital, explicou que o estudo baiano será uma referência mundial. " Ele é fantástico. É o primeiro estudo que mostra essa eficácia. Os urologistas pediátricos brasileiros são muito bons" , disse o maior especialista no setor, Hoebeke.
Em sua apresentação, Hoebeke falou sobre a importância de se fazer a cirurgia de criptorquidia o quanto antes. Quando a criança nasce, o testículo deve descer da barriga para a bolsa escrotal antes de 1 ano de idade. Caso isso não ocorra, a criança tem 40 vezes mais chances de desenvolver câncer de testículo e mais chances de ser infértil quando adulta. " Quanto mais cedo ela for tratado, menor serão as chances de ela ser infértil ou ter câncer. Recomendo a cirurgia a partir de seis meses e até 1 ano" , afirmou Hoebeke. " Esperar muito pela cirurgia é errado. Operando tarde, ela poderá ter um espermatozóide de baixa qualidade e as chances de infertilidade sobem para 30%" , completou.
De acordo com o chefe da Uropediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Antonio Macedo Jr., antigamente os médicos recomendavam esperar até 2 anos para operar a criptorquidia, mas essa indicação já está ultrapassada. " Se o testículo não desceu até 1 ano, não vai descer mais e é preciso fazer a cirurgia" , alertou o médico. " Antes mesmo de 1 ano já sabemos se ele vai descer ou não na apalpação. Se não conseguirmos apalpá-lo ou na apalpação notarmos os testículos altos, já é indicação cirúrgica" , complementou.
A bolsa escrotal mantém os testículos em uma temperatura mais baixa que a do corpo e isso é essencial para a produção de espermatozóides de qualidade.

Fonte: SBU-SP